Em 1876, o fisiologista alemão Willy Kühne criou o termo Enzyme, com origem no grego en- ‘dentro’ + -zumê ‘fermento’) para designar as substâncias orgânicas com funções catalisadoras em numerosas reações químicas. De género neutro em alemão, a palavra passou para o inglês e para o francês, língua em que inicialmente o vocábulo foi considerado do género masculino e é hoje documentado, pelo Dictionnaire de l’Académie française, como de género feminino ou masculino, o que também acontece em espanhol, ainda que o Diccionario panhispánico de dudaspanhispánico de dudas recomende o uso no feminino.

Em português, a tradição lexicográfica consagra o género feminino, o que se comprova pela consulta de várias obras de referência, como é o caso do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves (1966), o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, e de vários dicionários. Há, no entanto, uma exceção: Silveira Bueno. Este filólogo consigna o género masculino no seu Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa (1963).

A razão para a adoção do género feminino deve-se ao facto de a palavra não chegar até nós diretamente pelo grego, o que nos impede de fazer analogias com outros helenismos neutros terminados em a, como «grama» (unidade de medida), por exemplo, sendo o seu género, em língua portuguesa, induzido pela sua terminação.

O hábito linguístico com que determinado vocábulo acaba por se fixar na língua tem cada vez mais peso em questões lexicográficas – a consagração pelo uso. Ora, a este respeito, e observando a oscilação de género que se verifica em diferentes comunidades científicas, atualmente justifica-se o registo dessa oscilação, mantendo, todavia, pelos motivos linguísticos acima apontados, a forma feminina como preferencial.

Consulte a entrada enzima no Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa.


Lisboa, 22 de outubro de 2015
Ana Salgado & Bernardo Jerosch Herold

 

Vocabulário da Língua Portuguesa é um dos recursos lexicográficos de referência da Academia das Ciências de Lisboa. Embora se tenha tomado como base de partida os anteriores vocabulários académicos, este vocabulário digital foi elaborado inteiramente de novo.

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