Nas formações com o prefixo re-, mesmo nos encontros de vogais iguais ou quando o segundo elemento inicia por h, não se emprega o hífen, como em reescrita (re-+escrita) ou reabilitar (re-+habilitar).

À luz das disposições de 1945, e segundo as recomendações de Rebelo Gonçalves (1947), o elemento re-, um prefixo latino muito produtivo, une-se sempre ao elemento imediato. Com esta união, os elementos posteriores geralmente ficam intactos, mas há situações em que se dão alterações interiores:

a) elisão da vogal e final antes de vogal: restruturação (também reestruturação); restruturar (também reestruturar);
b) elisão do h medial antes de vogal: reabilitar, reaver, reidratar, reidratação, reidratante;
c) duplicação, após o e final, do r inicial do elemento imediato: rerradiação, rerradiado, rerradiar, rerranger, rerratificação, rerratificado, rerratificar, rerrespirado, rerrespirar;
d) duplicação do s inicial, quando fica entre vogais: ressaber, ressabido, ressaboreado, ressaciado, ressaciar, ressair, ressalgar, ressaliente, ressaltar, ressangrar, ressaque, ressaudar, ressurgir.

Com a aplicação da nova ortografia, nomeadamente da regra enunciada na Base XVI, 1.º, b), que determina uso do hífen nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento, esperar-se-ia que surgissem formas hifenizadas, como *re-edição ou *re-escrita, mas não é o que acontece. Afinal, neste caso, a tradição ortográfica falou mais alto. Cedo, Evanildo Bechara, filólogo e gramático brasileiro, veio esclarecer que o Acordo, “por esquecimento” não tratava dos prefixos re-, pre- e pro-. “Se o Acordo quisesse contrariar essa tradição, teria sido explícito, o que não ocorreu. Logo, a conclusão é a de que houve um esquecimento. ” Segundo a ABL, a tradição ortográfica é um dos princípios que deve ser tomado em conta no caso de omissões do texto legal.
Os vocabulários disponíveis são unânimes quanto ao tratamento: as palavras iniciadas pelo prefixo re- não levam hífen. Embora as ferramentas linguísticas da Priberam, num primeiro momento, ditassem a hifenização por aplicação da regra da Base XVI, a opção foi reconsiderada . Em 2009, D’Silvas Filho também defendia a aglutinação com a afirmação de que a “tendência da língua é para a aglutinação quando se formam unidades mórficas com prefixos de poucas letras (ex.: re-, de-)” . Por fim, nos critérios de aplicação do Acordo Ortográfico ao Vocabulário Ortográfico do Português (VOP), numa das alíneas informa-se que o hífen não é usado com prefixos átonos como des-, in- e re- que já se justapunham, antes da aplicação do AO, sem hífen” .

Ainda que o texto de 1990 não faça referência ao prefixo re-, e que uma outra redação fosse desejável, esta parece ser uma questão já resolvida e em que há consenso.

 

Lisboa, 19 de dezembro de 2016
Ana Salgado

 

Instruções.
Nas formações com o prefixo re-, mesmo nos encontros de vogais iguais ou quando o segundo elemento inicia por h, não se emprega o hífen, como em reescrita (re-+escrita) ou reabilitar (re-+habilitar).